Financiamento de R$ 7 milhões da FAPERJ viabiliza inauguração de um laboratório de ponta do IVIG/UFRJ
- ailtondgouveia

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Rio de Janeiro – O Instituto Virtual Internacional de Mudanças Globais (IVIG) inaugurou, em 10 de dezembro de 2025, o LDP – Laboratório de Pesquisa Aplicada em Descarbonização e Pirólise de Resíduos, na Ilha do Fundão, em uma área cedida pela Prefeitura Universitária da UFRJ, próxima à Baía de Guanabara. A nova infraestrutura consolida uma plataforma de pesquisa aplicada voltada à conversão termoquímica de resíduos e à captura e uso de carbono, com potencial de impacto tecnológico e ambiental.

Infraestrutura e financiamento
A implantação do laboratório foi viabilizada por meio de um projeto financiado pela Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (FAPERJ), com investimento da ordem de R$ 7 milhões, destinados à estruturação da infraestrutura experimental e à consolidação das linhas de pesquisa.
Esse financiamento permitiu a aquisição de equipamentos estratégicos e o desenvolvimento de uma planta capaz de operar em escala piloto e semi-industrial, aproximando a pesquisa das condições reais de aplicação.

Reator de pirólise e pesquisa aplicada
Entre os principais avanços decorrentes do projeto está a aquisição de um reator de pirólise robusto, de origem chinesa, pesando 18 toneladas, fornecido pela empresa Beston Group.
O equipamento permite a realização de ensaios avançados de conversão termoquímica de resíduos sólidos e a caracterização detalhada dos produtos e subprodutos do processo, como biochar, bio-óleo e gases condensáveis.
A importância da pesquisa reside na avaliação do potencial de uso desses materiais.
O biochar, por exemplo, destaca-se como um condicionador de solo valioso para a agricultura, pois melhora a retenção de água e nutrientes, além de atuar como um sequestrador de carbono de longo prazo, contribuindo para a mitigação das mudanças climáticas.
Paralelamente, os óleos e gases condensáveis gerados no processo estão sendo estudados como potenciais fontes de energia renovável ou como matérias-primas químicas, agregando valor a resíduos que, de outra forma, seriam descartados.
A operação em escala ampliada contribui, assim, para o aprimoramento das condições operacionais e para a avaliação de rotas tecnológicas com potencial de aplicação industrial e de gestão sustentável de resíduos.




Planta de descarbonização e produção de barrilha
O laboratório também conta com uma planta de descarbonização de tecnologia inteiramente nacional, desenvolvida pela empresa Karbonatus, sediada em Goiás. A unidade é dedicada à captura e conversão de dióxido de carbono (CO₂) em carbonato de sódio (barrilha), um insumo industrial estratégico.
O processo consiste em borbulhar CO₂ em uma solução de soda cáustica (NaOH), promovendo a captura do gás e a fixação estável do carbono. Parte do CO₂ utilizado é proveniente dos gases gerados no reator de pirólise e de um gerador movido a biometano que opera no próprio laboratório.

Importância estratégica da barrilha
A barrilha é amplamente utilizada na fabricação de vidros, sabões, detergentes e no tratamento de água. Atualmente, o Brasil depende extensamente da importação desse produto para suprir sua demanda interna. Nesse contexto, a pesquisa desenvolvida no LDP assume caráter estratégico ao demonstrar uma rota tecnológica nacional capaz de converter CO₂ em um insumo de alto valor, contribuindo para a inovação, a autonomia produtiva e a agenda de descarbonização do país.

Presença de autoridades e compromisso institucional
A cerimônia de inauguração contou com a presença do reitor da UFRJ, Roberto de Andrade Medronho, da presidente da CAPES, Denise Pires de Carvalho, da chefe de Gabinete do Reitor e professora da Escola de Química da UFRJ, Fabiana Valeria da Fonseca, do decano do Centro de Tecnologia, professor Walter Issamu Suemitsu, além do diretor de Gestão Portuária da PortosRio, dirigentes universitários e representantes de instituições e empresas parceiras.

Reitoria destaca tecnologia e inovação
Durante o evento, o reitor Roberto Medronho ressaltou a relevância de iniciativas que fortalecem a capacidade universitária em pesquisa aplicada, tecnologia e inovação, destacando que projetos estruturantes como o laboratório do IVIG reforçam o compromisso institucional com agendas de sustentabilidade e com a produção de conhecimento voltado a desafios contemporâneos.

CAPES e formação de recursos humanos
A presidente da CAPES, Denise Pires de Carvalho, destacou a relevância de ambientes de pesquisa que integrem infraestrutura científica robusta, formação avançada de recursos humanos e aplicações tecnológicas conectadas a desafios atuais. Afirmou que o laboratório do IVIG fortalece programas de pós-graduação e cria oportunidades para estudantes e pesquisadores atuarem em temas emergentes ligados às mudanças globais.

Centro de Tecnologia destaca integração entre novas tecnologias e formação acadêmica
O Decano do Centro de Tecnologia da UFRJ, Professor Walter Issamu Suemitsu, elogiou o projeto e destacou que um laboratório desse porte não é simples de conceber nem de implantar. Ressaltou a determinação do IVIG, na pessoa do Professor Marcos Freitas, e o apoio da UFRJ, por meio do Reitor Roberto Medronho, na viabilização de uma infraestrutura que integra novas tecnologias de conversão e aproveitamento de resíduos à formação acadêmica e à pesquisa, aproximando estudantes e pesquisadores de temas como pirólise, descarbonização e valorização de resíduos.

PortosRio, destaca parceria com a UFRJ em projeto inovador de gestão de resíduos
O diretor de Gestão Portuária da PortosRio, Ricardo Ganen, destacou a presença da empresa no laboratório como uma iniciativa inédita no país. Segundo ele, a parceria com a UFRJ e o IVIG visa enfrentar os passivos associados aos resíduos sólidos, um dos grandes desafios da sociedade contemporânea.
Ganen ressaltou que, com o apoio do Ministério de Portos , a PortosRio está formalizando um convênio com a UFRJ para mitigar passivos operacionais, técnicos, científicos e sociais.
"Somos colaboradores e estamos em processo de doação de duas autoclaves, que servirão para inertizar os resíduos sólidos de saúde, preparando-os para a pirólise", explicou.
Essas autoclaves são essenciais para a etapa de inertização, necessária antes do encaminhamento dos resíduos para processos de valorização ou destinação adequada.
“Para nós, é motivo de grande satisfação colaborar com a universidade e estar inseridos em um ambiente acadêmico de excelência, em uma das instituições de maior referência e respeito internacional, que é a UFRJ”, concluiu.

Cooperação internacional e perspectivas
O laboratório já se consolida como uma plataforma estratégica para parcerias nacionais e internacionais, com agendas que demonstram o crescente interesse em cooperações científicas voltadas à valorização de resíduos, à captura de carbono e à inovação aplicada.
Como parte desse esforço, em setembro de 2025, o professor Marcos Freitas participou de uma missão acadêmica em Weihai, na China, a convite da Universidade de Shandong. A missão teve como objetivo discutir desafios globais relacionados à transição energética e às mudanças climáticas, em um cenário de crescente preocupação internacional com a redução das emissões de gases de efeito estufa e a busca por soluções tecnológicas sustentáveis e de baixo carbono.
Reforçando essa conexão, na véspera da inauguração do laboratório, a unidade recebeu a visita de representantes do Consulado-Geral da China no Rio de Janeiro, entre eles Zhou You, cônsul para assuntos de ciência e tecnologia, e Jing Yanhui, cônsul comercial.
Durante o encontro, foram discutidas possibilidades concretas de cooperação em tecnologia e inovação, valorização energética de resíduos e intercâmbio acadêmico e científico entre Brasil e China.

Consolidação de uma plataforma estratégica
Ao final da cerimônia, os participantes convergiram na avaliação de que o novo laboratório consolida uma base estratégica para o IVIG e para a UFRJ, criando condições para a continuidade de pesquisas, a formação de novos quadros acadêmicos e a ampliação de parcerias em temas centrais para o futuro da gestão de resíduos, da conversão térmica e da captura de carbono.

REGISTRO FOTOGRÁFICO DO EVENTO




















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